- Quem pode prever o futuro?... Deixai-me partir. Neste momento sofro muito!... Adeus, senhora! E se eu tiver de perder-me nos abismos do grande golfo ou morrer com uma bala ou um ferro no peito, lembrai-vos sempre do Corsário Negro!

O Corsário Negro 

Emílio Salgari

 O Corsário Negro é considerado a obra-prima do escritor italiano Emílio Salgari. A esta obra podemos também anexar a sua conclusão, A Rainha das Caraíbas.

 A escrita é muito simples e direta, longe das longas descrições e parêntesis de Alexandre Dumas ou de Walter Scott, dois mestres no romance de aventuras.

 Salgari tem uma abordagem muito visual da narrativa, muito próxima da descrição cinematográfica. Decerto que daria um excelente argumentista e é esta particularidade que o diferencia.

 Este romance de capa e espada decorre no século XVII e narra as aventuras de Emílio de Vengtimilia, um fidalgo tornado pirata que, com seus fiéis companheiros, enfrentam os colonizadores espanhóis no Novo Mundo. Conhecido como o Corsário Negro, Emílio jurou vingar a morte dos três irmãos às mãos de Wan Guld, um duque flamengo.

 Depois de abordagens de navios, tempestades marítimas, duelos de espada, alucinantes perseguições em florestas tropicais, a narrativa adensa-se quando o Corsário Negro se apaixona pela jovem e bela Honorata, a filha do seu mortal inimigo.

"O Corsário Negro tornou-se imediatamente sombrio. (...)

- Não sei dizer-vos porquê, senhora, mas sinto que teria medo de vos ter a bordo do meu navio. É o pressentimento de alguma desgraça que não posso prever, ou alguma coisa pior?... Vós fizestes-me esse pedido, e o meu coração, em vez de exultar, experimento uma dor cruel; olhai para mim: vereis que estou pálido que de costume...

- É verdade!... - exclamou a duquesa, com espanto. - Meu Deus! Poderá esta expedição ser-vos funesta?

- Quem pode prever o futuro?... Deixai-me partir. Neste momento sofro muito!... Adeus, senhora! E se eu tiver de perder-me nos abismos do grande golfo ou morrer com uma bala ou um ferro no peito, lembrai-vos sempre do Corsário Negro!"

 Este impasse, digno de tragédia grega, culmina em A Rainha das Caraíbas, a conclusão épica desta saga de piratas.

Edição da editora Verbo. 1996
Edição da editora Verbo. 1996

 Conheci o Corsário Negro na década de 90, através do meu avô que na sua juventude colecionou várias obras do autor. Destaco também uma edição da obra editada pela editora Verbo, magistralmente ilustrada por Augusto Trigo.

 Mas para percebermos melhor o fenómeno Salgari, temos de recuar até ao Portugal dos anos 50. Naquela época, Emílio Salgari era extremamente popular em Portugal e as livrarias estavam inundadas de livros juvenis assinados por este ilustre italiano. Não esquecer que estamos a falar do autor de Sandokan.

 As edições portuguesas estavam a cargo da editora Romano-Torres que, de forma muito inteligente, dividia os livros em vários volumes. O Corsário Negro não foi exceção. A obra foi dividida em 4 volumes, sendo esta a ordem: O Corsário Negro, O Juramento do Corsário Negro, A Noiva do Corsário Negro e A Rainha dos Caraíbas.

 O público-alvo era juvenil e estavam na moda os filmes de capa e espada, um fenómeno muito equivalente aos filmes de super-heróis da atualidade. Nos cinemas batiam-se palmas quando o lendário Errol Flynn aparecia de espada na mão, empoleirado na proa de um navio pirata, pronto a salvar Olivia de Havilland. Tudo isto já se arrastava da década anterior.

 Pelo que percebi, naquela época, O Corsário Negro estava para os jovens como hoje estão Os Piratas das Caraíbas ou até mesmo Os Vingadores.

 Estamos a falar de um fenómeno que a editora Romano-Torres sabia como capitalizar, até porque algumas obras já tinham sido editadas mas nunca com a popularidade que atingiu na década de 50. Para além da divisão em várias obras, o sucesso também se devia às magníficas ilustrações das capas, verdadeiras obras de arte, de cores vivas, cenários deslumbrantes e personagens desenhadas com base em estrelas cinematográficas. A versão de Emílio Vengtimilia, o Corsário Negro, é a imagem e semelhança de Errol Flynn. Esta parecença é flagrante na capa de A Noiva do Corsário Negro. O herói é apresentado bem ao estilo de Flynn em As Aventuras de Robin dos Bosques e O Gavião dos Mares.

Emílio Vengtimilia e Honorata Wan Guld. Pormenor da Ilustração da capa de A NOIVA DO CORSÁRIO NEGRO.
Emílio Vengtimilia e Honorata Wan Guld. Pormenor da Ilustração da capa de A NOIVA DO CORSÁRIO NEGRO.

 A saga de O Corsário Negro é uma leitura muito agradável e essencial para quem gosta de romances de aventuras e capa e espada e não é por acaso que esta obra faz parte do Plano Nacional de Leitura. Portanto, façam como eu e entrem a bordo do Relâmpago, sintam o vento a bater na vossa cara, o salpicar das ondas do mar das Caraíbas e vivam em primeira mão esta eterna aventura!

Francisco Sousa Faria da Silva

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