Buraco Negro ou vórtice amoroso em forma de espinho
"Já não te amo. Não consigo."
O amor pode ser um lugar estranho... um buraco negro ou um vórtice em forma de espinho.
Intensa, erótica e ousada, a peça de teatro Buraco negro ou vórtice amoroso em forma de espinho é uma reflexão bem atual do conceito do casal contemporâneo.
Escrita e encenada por Renata Portas, a peça é precisamente uma viagem metafísica aos recantos mais obscuros do amor.
Tanto a personagem feminina M como a masculina H são espetros da consequência. Duas estátuas com pés de barro, duas mentes complexas que deambulam no quarto de um motel e se alimentam dos restos de memórias moribundas.
As máscaras vão caindo à medida que a despedida é cada vez mais eminente. E como diz Shakespeare, "toda a despedida é dor, tão doce todavia, que te diria boa noite até que amanhecesse o dia."
M:
"Não consigo saltar a cerca. Não consigo estar inteira noutro corpo."
O duelo de palavras é fascinante e é curioso como se atacam com tanta cumplicidade e dependência. Amor, ódio, amor, ódio... certeza...incerteza…
M é mais audaz e perspicaz. H é inteligente mas frustrado com o excesso que M representa para si... "a burguesa filósofa"...
Já nem Kierkegaard, que foi um dos seus cupidos, os salva. Hemingway, outro elo de ligação, é o mote para a disparidade e para o choque cultural. Por quem dobrarão os sinos nesta relação?
As memórias são como correntes de aço, unindo-os na solidão e no desespero onde deambulam também duetos improváveis, um poema de Pessoa e uma doce e irritante lembrança de Mary Poppins.
O que é o amor? Como se define? Como começa? Como acaba? Onde acaba?
H:
"Grava uma cassete com outro e manda-me pelo correio, meu amor, minha puta, meu amor, minha pu... meu am..."
Buraco negro ou vórtice amoroso em forma de espinho é uma reflexão poética sobre esta temática universal. A peça tem uma escrita densa e cativante, carregada de simbologia e referências culturais com as quais o espetador se vai identificar.
As interpretações de Teresa Queirós e Tiago Sines são intensas, expressivas e ousadas, rodeadas por um cenário fascinante e envolvente. As posições corporais são pensadas ao pormenor e ajudam a uma melhor interpretação do turbilhão que assola estes dois espetros.
Uma reflexão moderna e inteligente sobre as consequências do amor e de tudo o que esta força invencível e universal consegue agitar.
Em cena até dia 30 de novembro no Zero Box Lodge Hotel (Porto)
Autor: Renata Portas
Interpretações: Teresa Queirós, Tiago Sines
Créditos fotográficos: Teresa Nunes
Francisco Silva © 2019