Era uma vez... em Hollywood

26-08-2019

Era uma vez... em Hollywood traz de volta a verdadeira essência da arte cinematográfica. Quentin Tarantino não é só um grande realizador como também um escritor notável. E como já é habitual, é a forma como trata as suas personagens que cativa o espetador. A tudo isto juntam-se um grupo de atores de topo.

É um filme com uma narrativa muito bem construída, com foco nas personagens e respetivo desenvolvimento, sem qualquer tipo de efeitos especiais ou CGI, algo cada vez mais raro em Hollywood.

O espetador é completamente transportado para aqueles anos dourados do Cinema e quando dá por si, está ao lado de Rick Dalton (Leonardo Dicaprio) num cenário de uma série de televisão, no lugar de passageiro no carro conduzido por Cliff Booth (Brad Pitt) ou sentado ao lado de Sharon Tate (Margot Robbie) numa sala de cinema na baixa de Los Angeles a ver The Wrecking Crew.

O contexto político-social da época é também obrigatoriamente explorado. Portanto, não deixam ser abordados temas como a guerra do Vietname, os movimentos hippies e estilos de vida alternativos. 

As referências e homenagens ao Cinema são tantas que só por si valem a pena a segunda visualização do filme. Há tantos pormenores para serem descobertos e pequenos detalhes escondidos. Desde os preferidos spagethi westerns a Green Hornet de Bruce Lee, passando também por êxitos dos finais da década de 50 como The Lone Ranger e o Zorro.

Samuel L. Jackson também não deixa de marcar a sua presença habitual.

Há todo um trabalho histórico por detrás desta fiel reconstituição dos finais da década de 60. É um filme que junta vários géneros e que os consegue harmonizar de forma coerente, sempre ao som nostálgico de Neil Diamond, The Mammas and the Papas, Simon and Garfunkel, entre tantos outros... 

E é quando estamos prestes a ouvir o refrão de Mrs. Robinson que Tarantino nos troca as voltas e nos obriga mesmo a cantarmos para nós mesmos!

And here's to you, Mrs. Robinson
Jesus loves you more than you will know
Whoa, whoa, whoa

Mas é sem dúvida ao som de California Dreamin' que chegamos ao culminar de uma viagem inesquecível e à catarse dos protagonistas.

Esta é uma obra diferente das que Tarantino nos tem apresentado. Na minha opinião é mais madura e humana. Há aqui uma mensagem bem patente do valor da amizade e tudo isso é construído desde os primeiros momentos do filme.

Tarantino capta também a essência do quotidiano da época e passa essa mensagem de formas muito competentes. Os pequenos pormenores são fantásticos. Um dos exemplos que mais gostei foi do mise-en-scène de Cliff Booth (Pitt) a arranjar a antena de televisão em cima do telhado da casa de Rick Dalton (Dicaprio).

O diálogo como ferramenta principal de caracterização de personagens é extraordinariamente bem feito. Há uma cena entre uma jovem atriz de 8 anos (Julia Butters) com o ator Rick Dalton (Dicaprio) que é de uma mestria absoluta. Tarantino sabe como interligar o espetador com as personagens. E é precisamente por isso que a narrativa que está ligada a essa premissa resulta tão bem nos momentos seguintes. 

De forma inteligente, Quentin Taratino quase que insiste em que o espetador fique a conhecer de forma intrínseca aqueles indivíduos fictícios.  

Há um momento em que a ficção parece não existir, dando lugar à realidade.  E isso é Cinema.

Francisco Silva © 2019

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