Os Três Mosqueteiros: D'Artagnan, um épico de capa e espada contemporâneo
A nova versão cinematográfica de Os Três Mosqueteiros, de Martin Bourbolon é um espetáculo visual. Imersiva e realista, esta é a versão que há muito se esperava, finalmente falada no idioma original do imortal clássico de Alexandre Dumas.
Os Três Mosqueteiros: D'Artagnan é uma obra cinematográfica que merece ser aplaudida e celebrada. Esta nova adaptação francesa do clássico romance de Alexandre Dumas, com Vincent Cassel (Athos), Romain Duris (Aramis), Pio Marmaï (Porthos), François Civil (d'Artagnan) e Eva Green no papel de Milady de Winter, não só respeita a intemporal história original, mas também consegue reinventá-la de forma magistral, trazendo-a para os tempos modernos.
Um dos aspetos mais notáveis neste filme é a forma como presta homenagem às várias adaptações que o precederam e o notório respeito pela obra literária. Estão presentes inúmeras referências, subtilmente incorporadas, a outros filmes e séries que já exploraram este universo. Desde os trajes elegantes e espadas afiadas, que evocam a versão clássica de George Sidney, com Lana Turner e Gene Kelly, até às nuances da arrojada cenografia e figurinos, que lembram a obra-prima do cinema mudo francês de 1921 (curiosamente lançada pela mesma produtora, Pathé, há mais de cem anos), realizada por Henri Diamant Berger, este filme é uma verdadeira homenagem aos grandes filmes de aventuras e de capa e espada, com valores de produção semelhantes a blockbusters do mesmo género dos anos 90, tais como Robin Hood: O Príncipe dos Ladrões (1991), O Homem da Máscara de Ferro (1998), A Máscara de Zorro (1998), O Conde de Monte Cristo (2002).
Já em 1973, a super produção dirigida por
Richard Lester, intitulada Os Três Mosqueteiros e a sua sequela
(filmados back-to-back), Os Quatro Mosqueteiros, ambas com Oliver
Reed, Michael York e Richard Chamberlain nos papéis principais, trouxeram uma
abordagem mais descontraída e humorística à narrativa. Estes filmes foram
aclamados por combinar elementos de ação e comédia, criando uma experiência
única que conquistou um lugar especial no coração dos fãs, sendo renovada em 1993, com uma divertida versão realizada por Stephen Herek. Os Três Mosqueteiros (1993) com Charlie
Sheen, Kiefer Sutherland, Chris O'Donnell e Oliver Platt nos papéis dos famosos
Mosqueteiros manteve o espírito aventureiro da história original,
combinando ação e intriga de forma emocionante. Foi uma adaptação que cativou
uma nova geração de espectadores mais jovens.
No entanto, o que torna esta adaptação verdadeiramente especial é a sua capacidade de modernizar a história sem perder a sua essência. A trama mantém-se fiel aos conflitos de intrigas, traições, honra e lealdades profundas, que sempre foram o cerne da história do romance de Alexandre Dumas. A ambientação respira cinema europeu, com subtis toques da aclamada e inesquecível obra-prima do cinema francês, Cyrano (1990), de Jean-Paul Rappeneau, e que, por sua, vez o realizador Martin Bourboulon admitiu ser uma das suas grandes referências para este filme.
Eva Green oferece uma interpretação poderosa de Milady, capturando a
complexidade da personagem de forma notável (a ser mais desenvolvida no segundo
filme, Os Três Mosqueteiros: Milady, com estreia marcada para dezembro deste
ano). A sua presença magnética e carismática traz uma dimensão extra à
história, tornando Milady uma figura ainda mais fascinante e ambígua.
Além disso, a direção de arte e os cenários são deslumbrantes, transportando-nos de volta à França do século XVII, com um subtil e agradável toque contemporâneo. A ação é emocionante, coreografada de forma dinâmica, em plano de sequência, onde os duelos de espada ganham uma nova amplitude. O elenco está perfeito, dando vida aos icónicos personagens de Dumas com uma autenticidade palpável.
Em suma, Os Três Mosqueteiros; D'Artagnan é uma reinterpretação empolgante e digna deste clássico literário. Com um respeito pelas adaptações que o antecederam e uma habilidade admirável em adaptar a história aos dias de hoje, este filme captura o espírito dos Mosqueteiros de forma cativante. É uma celebração do passado e uma visão emocionante do presente, que certamente conquistará tanto os fãs leais da história como uma nova geração de espectadores.
© 2023 Francisco Silva