Zorro and Son (1983): uma série no esquecimento
Zorro and Son é um sitcom realizado pela Walt Disney em 1983. O objetivo inicial era fazer uma sequela direta da famosa série Zorro dos anos 50/60, produzida pessoalmente por Walt Disney e com Guy Williams no papel principal.
Depois de algumas mudanças no género, Zorro and Son ficou muito aquém das expectativas e ao fim do quinto episódio, foi cancelada.
Na minha opinião, esta série é na realidade muito divertida e original mas é preciso ter noção de que estamos a falar de um sitcom e não de narrativas de ação e aventuras.
No princípio dos anos 80 os sitcoms eram extremamente populares (veja-se o exemplo do Alô, Alô!) e os produtores recearam que uma sequela de um produto dos anos 60 pudesse não resultar para o público mais contemporâneo.
Como sitcom, Zorro and Son consegue trazer boa disposição e arrancar umas boas gargalhadas. É uma série leve que acaba por sofrer pela popularidade do seu antecessor. Os baby boomers cresceram com as aventuras do Zorro protagonizado por Guy Williams. Estamos a falar de um fenómeno televisivo com qualidade cinematográfica que conquistou os Estados Unidos no final da década de 50 e princípio da década de 60. Todas as quintas-feiras à oito da noite, os baby boomers cantavam em conjunto o genérico do Zorro e vibravam com as aventuras do justiceiro mascarado.
Esta grande popularidade propagou-se pelas décadas seguintes e no início dos anos 80, o Zorro de Guy Williams ainda estava muito presente na memória de toda a gente.
Depois de Guy Williams confirmar que não iria participar na nova série, Zorro and Son tinha ainda mais um desafio pela frente. Para além de mudar o tom tinha também de encontrar um novo protagonista.
O ator Henry Darrow foi o escolhido para o papel de Don Diego Vega/ Zorro. Darrow tinha já contribuído para o legado de Zorro com a dobragem da série de animação The New Adventures of Zorro, em 1981.
A premissa de Zorro and Son é simples e muito semelhante à mais recente A Máscara de Zorro (1998). Don Diego está agora envelhecido e precisa de treinar um novo Zorro para o ajudar a combater a tirania. A Diego junta-se o seu filho adolescente, Don Carlos, protagonizado por Paul Regina.
É muito interessante ver a relação destes dois personagens, não só como pai e filho mas também como professor e aluno. Apesar de estarem do mesmo lado, têm visões muito diferentes de como combater a tirania.
Este duo, ajudado pelo criado de Diego, Bernardo (Bill Dana), que nesta versão não é mudo, tem de aprender a trabalhar em conjunto e derrotar os vilões.
E como um grande herói precisa sempre um grande vilão, destaco a interpretação de Gregory Sierra como o Comandante Paco Pico, o inimigo dos Zorros.
Esta personagem é uma das minhas preferidas e o ator consegue mesmo tirar algum protagonismo aos heróis. Paco Pico é hilariante, sempre com uma expressão irónica nos seus olhos e com um boa piada em cada cena em que aparece.
Para além dos já mencionados, também há quem brilhe nas personagens secundárias, como o Cabo Cassete (John Moschitta Jr). E o nome desta personagem não é nada mais nada menos que uma referência direta às cassetes de áudio, em alta naquela época. Cassete tem a peculiaridade de fixar tudo o que ouve e consegue recitar tudo de trás para a frente e de frente para trás, como se tratasse de uma cassete!
Para além deste hilariante soldado, destaca-se também o sargento Sepulveda (Richard Beauchamp), um típico latino na sua mais pura essência, e ainda dois padres irmãos gémeos, Nappa e Sonoma, interpretados por Barney Martin.
Anita (Catherine Parks) e Angelica (Gina Gallego) são duas personagens femininas muito interessantes. A primeira é uma independente señorita, "a valley girl" segundo Don Carlos. A segunda, uma bailarina de flamenco que luta ao lado dos rebeldes. Ambas estão pedidas de amor pelo Zorro Jr.
As tramas dos episódios remetem-nos para o estilo de aventura embora a comédia seja sempre a prioridade desta série. Mesmo assim as histórias são interessantes e até com pormenores históricos curiosos. Por exemplo, no segundo episódio, a sala da Missão onde Don Carlos está a dar uma aula às crianças tem pendurado na parede um quadro com o retrato de Junípero Serra, o fundador das Missões na Alta Califórnia. Este é só um dos muitos exemplos e é de louvar estes pequenos pormenores de rigor histórico.
Acho que esta série tinha grande potencial mas a pouca aceitação por parte do público e a memória da super-produção anterior ditaram o fim de Zorro and Son. Os resultados foram tão maus que a Disney fechou completamente as portas ao Zorro.
Vi esta série apenas há uns anos atrás e gostei bastante. Tem boas vibrações, bons atores, histórias interessantes e muitas gargalhadas! Os cenários e o guarda-roupa são os mesmos da série anterior, e o genérico inicial é uma adaptação da música da série antiga, o que traz aos mais saudosos uma incontornável nostalgia. O original acaba por estar tão presente que também contamos com a presença não creditada de Don Diamond num dos episódios. Diamond participou na primeira série como o famoso Cabo Reyes.
Zorro and Son tinha tudo para dar certo… bem… quase tudo…
Francisco Silva © 2019