"Zorro", "Cinderela" e "Robin dos Bosques": o advento do Batatoon!
O Zorro, a Cinderela e o Robin dos Bosques são três séries de animação que marcaram o final dos anos 90 em Portugal. A TVI já as transmitia desde 95/96 mas atingiram o seu auge entre 98 e 99.
Este trio de desenhos animados foi a grande aposta da TVI no pré Batatoon e ainda fizeram parte das suas primeiras emissões durante um período considerável de tempo.
Grande parte das crianças que cresceram na segunda metade dos anos 90 ainda se lembra muito bem do Robin dos Bosques, do Zorro, da Cinderela. Muitos de nós até citávamos diálogos do Zorro na escola.
Há outros animés e séries animadas que merecem grande destaque. Escreverei sobre eles com toda a certeza mas estes três foram os pioneiros, numa altura em que o Dragon Ball começou a diminuir a sua popularidade. E foi precisamente nesta época que a criançada se rendeu ao Batatinha e Companhia no Batatoon.
O Batatoon estreou em novembro de 1998 e foi um fenómeno que marcou uma geração inteira e que nos acompanhou até ao início do novo século. E estas séries fizeram parte dessa mística. Penso que não estarei errado em afirmar que o Zorro e a Cinderela eram um pouco mais populares do que o Robin dos Bosques, apesar de levarem uma abada na canção do genérico:
"(...) É o Robin, nós chamámos-lhe assim. (...) Quando vai à liça, praticando o bem e a justiça. (...) É o Robin numa luta sem fim."
E quantos de nós pensávamos, convictos, de que em vez de "liça" era "missa"?
(E cantávamos daquela maneira, a pensar que era mesmo assim!)
Os episódios das três séries foram transmitidos em inúmeras reposições, de manhã e de tarde mas assistíamos a cada um como se fosse a primeira visualização.
A mítica sequência em que Diego se mascarava de Zorro, comparável à transformação de um sentai, era só por si épica. E era precisamente com essa imagem que iniciava o genérico, ao som de uns acordes de um paso doble.
E depois havia o Bernardo, o Pequeno Zorro, irmão adotado do herói. Tinha a nossa idade e facilmente nos identificávamos com ele. A Lolita, amiga de infância de Diego e seu par romântico na história, demorou quarenta e nove episódios para descobrir finalmente quem era o Zorro! E foi preciso o Zorro levar uma valente tareia de um inimigo para que a revelação acontecesse. Mas calma que a rapariga tratou dele e ainda a podemos ver a lançar estocadas e a lutar pela justiça enquanto Diego recuperava...
Já na Cinderela, o príncipe fugia incógnito do palácio e misturava-se com a população. A Cinderela apelidou-o de Charles, "o mentiroso". À semelhança da Lolita, também nunca mais descobria que o seu amigo Charles não era nem mais nem menos o príncipe do reino. A Cinderela falava com os seus animais de estimação graças a um feitiço da fada-madrinha. Para além dos ratos e pássaros, o cão Poli é inesquecível!
No Robin dos Bosques, o "Cavaleiro Solitário", Gilbert, retirava todo o protagonismo ao Robin. Penso que foi aqui que muitos pré-adolescentes deram por si a torcer por um semi-vilão que mais parecia um vocalista de uma banda de metal do que propriamente um cavaleiro da idade média... O Kylo Ren original, sem dúvida! Até a Lady Marian estava dividida. As histórias eram divertidas mas, como já referido e na minha opinião, inferiores às do Zorro e Cinderela.
As dobragens, com muita qualidade, eram outro fator chave para o sucesso. À semelhança do Dragon Ball, também as vozes portuguesas destes personagens tocavam-nos no coração, no imaginário e faziam-nos realmente acreditar. A sua entrega e interpretação são notáveis.
Para além disso, cada episódio tinha uma moral, bons valores, e explorava todas essas mensagens de formas criativas e aventureiras, longe da paranóia do politicamente correto dos dias correntes. Muita ação, romance e boas doses de comédia. Ainda hoje, passados mais de vinte anos, estão bem presentes no imaginário daquela geração.
É curioso porque estas três animações reavivaram o conceito de herói (e heroína no caso da Cinderela) no seu sentido mais clássico, mais humano. Até porque nenhum deles tinha superpoderes e isso tornava a narrativa mais real e próxima do público. E a meu ver, abriram as portas para a série que as sucedeu - Samurai X. O Kenshin Himura e o resto da malta do Dojo Kamiya Kashin chegaram a Portugal e ao Batatoon em meados de abril de 1999. Mas isso será tema para outra crónica.
Por enquanto recordemos o Zorro, a Cinderela e o Robin dos Bosques... Pois recordemos então...
Para os mais esquecidos, faça-se luz com da mítica frase do Batatinha:
"Comando na mão e carrega no botão!"
Francisco Sousa Faria da Silva